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quarta-feira, 9 de março de 2016

Sobre o Racismo nos EUA ( Reflexões sobre o filme Selma)



Em 1896, uma decisão da Suprema Corte dos Estados Unidos consolidaria o processo de segregação na sociedade norte-americana.  O resultado do caso Plessy vs. Ferguson deu força à interpretação de que a separação de negros e brancos no espaço público não violava a igualdade de direitos garantida pela 14ª Emenda da Constituição. O argumento era o de que a segregação seria justa desde que cada grupo racial desfrutasse de serviços públicos da mesma qualidade, oficializando a doutrina “separados, mas iguais”, que vigorou até a ascensão do Movimentos pelos Direitos Civis na década de 1950.

Portanto, antes que Rosa Parks, Martin Luther King Jr. e Malcom X ascendessem como lideranças do movimento negro nos Estados Unidos, figuras como Ida B. Wells, William DuBois e Marcus Garvey cumpririam o papel de institucionalização do ativismo negro por meio de organizações como a National Association for the Advancement of Colored People (NAACP), e a Universal Negro Improvement Association (Unia). Nesse período, contudo, não havia ainda um arranjo institucional na política norte-americana capaz de contemplar demandas pela integração racial e o combate à violência. Os partidos políticos, até mesmo o Republicano, não demonstravam interesse na causa dos negros dos Estados Unidos.

As mudanças viriam durante a administração do presidente Franklin Roosevelt (1933-1945). O democrata, que assumiu o poder com a incumbência de tirar o país da depressão econômica após a crise de 1929, manteve-se distante das lideranças negras, mas o conjunto de políticas de seu governo ajudou a criar um ambiente favorável à ascensão do Movimento pelos Diretos Civis. Durante a era de Roosevelt, a população negra abandonaria o Partido Republicano, até então associado à figura de Abraham Lincoln, para dar uma nova face ao Partido Democrata, que tinha sua imagem associada aos políticos racistas dos estados do sul.

Com a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), a indústria norte-americana ganhou um novo fôlego, incluindo cada vez mais trabalhadores negros e intensificando a migração para o norte, onde não havia restrições formais ao voto. Na década de 1950, o eleitorado negro ganhava cada vez mais força, obrigando os políticos a responderem às demandas do ativismo. Por outro lado, a Suprema Corte norte-americana, durante o período de administração democrata, mudou a sua composição, ganhando um perfil cada vez mais progressista. Em 1954, o caso Brown vs. Board of Education, decidiu favoravelmente à integração de uma escola na cidade de Topeka, no estado do Kansas, abriu um precedente para que as leis segregacionistas fossem derrubadas.
 
Em 1955, em Montgomery, no Alabama, Rosa Parks negou-se a ceder o seu banco a um cidadão branco, desafiando a cultura segregacionista do sul. A ativista foi encarcerada, provocando indignação da população negra, que, posteriormente, tomou a decisão de boicotar o sistema de transporte da cidade. Esse ato foi um dos eventos que precipitaram a ascensão do Movimento pelos Direitos Civis, que mobilizou setores populares e incorporou ao amplo repertório de protesto negro as estratégias de não violência.

À medida que Martin Luther King se deslocava entre as cidades segregadas racialmente, outros grupos de ativistas se mobilizavam orientados pelas estratégias de não violência. Os membros do Congresso pela Igualdade Racial (Core) ganharam destaque com os Freedom Riders, um grupo de jovens negros e brancos que viajava entre os terminais de ônibus para forçar a integração racial, ocupando espaços reservados aos brancos. A jornada desses ativistas pelo sul do país foi uma entre as várias táticas que desafiavam o racismo norte-americano.

A ação dos ativistas, contudo, dependia da manifestação do governo federal, que em muitas circunstâncias preferiu não desafiar a força política dos segregacionistas. Foi na administração do presidente Lyndon Johnson (1963-1969) que o movimento chegou ao seu auge, ganhando cada vez mais adeptos, chocados com as cenas de violência perpetradas contra senhoras e crianças negras e captadas em imagens televisivas que circulavam nacionalmente. Em 1964, um enorme passo foi dado com a aprovação do Civil Rights Act, legislação que declarava a ilegalidade da discriminação baseada na raça, cor, sexo, religião ou origem, dando um grande impulso à integração racial em espaços e instituições públicas.

Parte do texto publicado em 
http://www.ceert.org.br/noticias/politica-no-mundo/7475/o-racismo-nos-estados-unidos

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